“Eu só cheguei aqui, porque nós chegamos!”

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Quem nunca viu um nariz torcido ou até mesmo sofreu aquela zoada cruel quando lhe perguntam da onde você é e você diz que é da BaixadaFluminense?

Bom, se você respondeu essa pergunta com um não, desculpa, mas é uma exceção. Acontece que o preconceito existente com os moradores da Baixada Fluminense é gritante e mesmo com o passar dos tempos essa ideia não é desconstruída.

Nascida e criada no município de Belford Roxo, cresci amando este lugar e as pessoas com quem convivo, a Baixada participou de todos os meus processos de transformação e vice e versa.Conheci tio Joca, a ascendência deste município e a decadência do mesmo, bem como alguns municípios vizinhos.

À parte da transformação urbana, acontecia aqui uma transformação ética, política e social, pela qual a Baixada também passava e, particularmente, eu, alimentando esta relação de troca e fazendo com que eu aspirasse mais e mais realizar algo de benéfico para o meu lugar.

Entre as transformações ocorridas e citadas acima, umas das mais fortes foram o meu amor pela história e o meu processo de conscientização de mulher negra e moradora da Baixada Fluminense. E, é claro, a sede de saber pedia movimentos culturais que pudessem alimentar esta minha sede de conhecimento e, também,de vivência, de convivência com outros irmãos.

Obtive muita dificuldade de encontrar eventos e movimentos culturais que exaltassem a Cultura africana e afrobrasileira, não por falta de existência, e sim, por falta de articulação e divulgação, tendo que me deslocar para o centro do Rio de Janeiro sempre com muita dificuldade, já que de fato é longe.

Observando esta mudança social e política, comecei a notar que o povo preto da Baixada estava reagindo, exaltando sua cor e suas raízes através de diversas formas. Só que eu só assistia a isto, não via a Baixada reagir a esta demanda, a esta manifestação cultural.Foi quando pensei na #UBUNTU, uma feira afro que traria para a Baixada um estímulo e um apoio ao nosso povo preto consciente.

Porém, nem toda ideia é bem aceita e foi isto que aconteceu. Eu curso história na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – Campus Nova Iguaçu, onde sou membro do Laboratório de Estudos Afro Brasileiros e Indígena, e praticamente desde quando entrei na faculdade, proponho a implantação deste projeto, pensando assim, é claro, na universidade como local ideal e totalmente válido para isto. Primeira decepção: foram quase quatro anos tentando fazer com que a #UBUNTU acontecesse na UFRRJ e nada.Quando a mesma mudou de gestão, abraçou de cara o projeto, propiciando todos os recursos, como estrutura, espaço e apoio, para que a feira fosse implantada da melhor maneira possível.

Resultado? Sucesso.

Não falo aqui de sucesso, fama. Falo aqui de sucesso como objetivo alcançado.

E qual é o objetivo da #UBUNTU? Além de exaltar a cultura afrobrasileira e empoderar toda e qualquer pessoa que faça parte da nossa luta, é enfrentar o sistema eurocêntrico que não permite que o produto de um afroempreendedor chegue nas grandes lojas e magazines; estas manifestações propiciam o conhecimento do trabalho de cada irmão.

E estamos aí, caminhando em processo de construção sempre, entretanto, o grande passo já foi dado, a #UBUNTU é verdade, e é verdade aonde tem de ser, na Baixada Fluminense.

E com absoluta certeza, eu só cheguei aqui, porque nós chegamos!

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